Segunda-feira, 24 de Fevereiro de 2025

Ontem eu estava lendo um livro chamado Quando mães saíram à rua de Fernando Calado. Este livro fala sobre um movimento chamado Mães de Bragança, que aconteceu em 2003 aqui em Bragança, cidade de Portugal que estamos morando desde dezembro de 2023. Nós ficamos sabendo sobre esta história depois de já estar morando aqui por um tempo, pois percebíamos uma vibe machista nos cafés que frequentávamos. Nada de novidade neste mundo, mas aqui a coisa parecia mais latente. Para resumir, na virada do milênio, Bragança, assim como várias outras cidades da Europa, teve um aumento de casas de prostituição e nestes recintos, haviam muitas prostitutas brasileiras. Segundo às católicas e desesperadas mães de Bragança — já fizeram até uma série sobre isso — as meninas, como eram chamadas as brasileiras, enfeitiçavam os seus homens, lhes drogavam e estes, então, passavam noites gastando dinheiro, pois diziam que as brasileiras eram carinhosas e cheirosas. As mães de Bragança achavam que as brasileiras eram bruxas e se indignaram tanto que, à época, assinaram um manifesto de protesto pedindo algum tipo de intervenção.  Neste texto e em vários outros que falam sobre este assunto, comenta-se sobre o aspecto xenófobo e ultra-conservador que permeia esta história. Esse assunto ficou bastante conhecido, porque na época foi capa da revista Times. História louca e lamentável, que pouco se comenta, mas que paira no ar. Tudo isso para comentar que a maneira de narrar do autor do livro, me incentivou a começar a escrever este blog, sobre as minhas aventuras diárias neste plano terrestre.

Outro fato que me incentivou a escrever coisas por aqui, foi uma rotina que passei a adotar por recomendação de um professor da universidade. Chama-se Morning pages. Basicamente, uma prática que surgiu com a autora Julia Cameron, que recomenda escrever três páginas a mão, assim que acordar. Ela revela várias vantagens desta prática. Embora eu não tenha mantido este hábito todo dia, eu acabei escrevendo à mão, três páginas por dia, sobre várias coisas da vida. A ideia da Cameron é que os relatos sejam coisas que ninguém mais possa ler, mas pensei em tornar este hábito público, para divulgar um pouco dos pensamentos que têm me atravessado. Eu lembro que na minha primeira viagem internacional, para San Diego, eu já mantinha um blog, onde contava as aventuras e novidades que vivi por lá, então, porque não divulgar um pouco do que estamos vivendo aqui em Portugal? No Instagram acabamos postando uma foto ou outra, mas sinto que as palavras acessam os assuntos de maneira mais profunda.

Algo que a Julia Cameron comenta sobre a rotina terapêutica das Morning pages, é escrever logo após acordar, pois ainda estamos naquele estado meio de sono/sonho. Eu cheguei a escrever alguns sonhos, quando escrevia as páginas matinais no caderno, quando não esquecia deles. Hoje foi um dia que fiz um esforço e ainda estou lembrando do meu último sonho, mesmo agora sendo 11 da manhã e eu tendo acordado perto das 9. O sonho foi com meu pai, que fez aniversário ontem. No sonho fomos de ônibus até um lugar que era como se fosse o limite da cidade. Meu irmão, meu pai e eu, descemos do ônibus e agora nós iríamos voltar para casa a pé. Então, começamos a voltar e curtir o caminho. Parecia ilógico, mas ao mesmo tempo, parecia uma lição que estávamos tendo. Tinha muita novidade pelo caminho e tinha alguns caminhos que eu reconheci de uma outra vez (talvez outro sonho), que tinha pedalado de bike. Passamos por umas casas e era muito longe para voltar, mas estávamos animados. Curioso isso, pois lembro de meu pai curtir andar e uma época, quando todos voltavam de ônibus de um passeio, nós voltávamos caminhando. Lembro também de uma vez que fomos de Oficinas até a vila Santa Terezinha em um grupo, caminhando. Parecia tão longe e impossível, mas chegamos triunfantes. Meu pai também gosta de andar de ônibus e já falou que pegava ônibus só para passear. Talvez este tipo de atividade seja saudável para o corpo e para a mente, no sentido da contemplação. O modo contemplativo e paciente que acionamos. Assim como o modo que estou agora, com a mente imersa nas tecladas e no texto que deixarei aqui. Apesar da minha sensação ser um pouco de nervosismo, pois logo tenho que trabalhar e tenho outras várias coisas para fazer. O sino da igreja aqui perto, que bate 11 vezes, faz questão de me lembrar de tudo isso. Mas, ainda assim tenho tempo para escrever mais um pouquinho.

Tenho passado os últimos dias estudando um ambiente de programação visual para áudio chamado Pure Data. Eu tive aulas disso na universidade, mas era muito difícil. Achei que nunca iria aprender, mas agora resolvi tentar outra vez e o conteúdo está entrando. É realmente impressionante as possibilidades, mas ainda desafiador. Resolvi tentar aprender, pois pretendo usar programas abertos (open-source), no meu projeto de doutorado. E o Pure Data sempre foi assim, gratuito. Basicamente, é possível tratar o áudio de diversas maneiras. Um dos programas mais utilizados de música eletrônica, o Ableton Live, é baseado nas funções possíveis do Pure Data. Estava bem divertido passar os dias explorando e aprendendo o PD, mas esta semana terei que priorizar outras coisas. O projeto do doutorado, por exemplo, que preciso concluir. Além disso, na Quinta vou para Lisboa para participar de um improviso com música e dança no c.e.m. Ainda estou pensando se levo minhas percussões e o laptop para testar o Pure Data ao vivo. Talvez seja uma boa hora. Estou realmente empolgado com isso. Chegou minha hora de dar umas aulas de inglês e deixar a música e a poesia em stand by. Esta semana é a última semana de aulas de três turmas de intensivo de verão que estou dando para a escola que trabalho no Brasil. Então, tem sido bastante trabalho mesmo, 9/10 horas por dia. Mesmo assim, achei tempo para estudar. O ruim disso é ficar muito tempo sentado, mas o bom é que vai vir um dinheiro para ajudar com as contas. Logo surge mais tempo para voltar com as práticas musicais. É isso, este foi o primeiro texto deste blog. Não sei quem tanto vai ler, mas está aqui. Tirei tudo isso da cabeça por enquanto. 

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