BIOGRAPHY
Luam Clarindo is a musician, percussionist, researcher, and educator. He has a master’s degree in music with a focus in sound creation (2023) from the Federal University of Paraná (UFPR), in Brazil, and is currently pursuing a PhD in artistic creation at the University of Aveiro (UA), in Portugal. His master’s thesis focused on creative interactions between music and dance in free improvisation performances, and his PhD practice research relates to free improvisation with percussion and live electronics. His areas of interest are experimental music, live electroacoustic improvisation, and transdisciplinary artistic practices.
BIOGRAFIA
Luam Clarindo é músico, percussionista, pesquisador e educador. Ele possui um mestrado em música com ênfase em criação sonora (2023) pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atualmente está cursando um doutorado em criação artística na Universidade de Aveiro (UA), em Portugal. Sua dissertação de mestrado teve como tema interações criativas entre música e dança em performances de improvisação livre, e sua pesquisa de doutorado é sobre improvisação livre com percussão e eletrônicos ao vivo. Suas áreas de interesse são música experimental, música eletroacústica improvisada ao vivo, assim como práticas colaborativas e transdisciplinares.
A PERSONAL ARTISTIC JOURNEY
(versão em Português abaixo)
I grew up living in a theater and throughout my childhood, I had contact with artists from the most diverse fields: music, dance, circus, visual arts, and performing arts. I also always watched and learned with my parents’ artistic experiences. My mother, Lucélia de Cássia Clarindo, is a storyteller, and my father, Américo da Silva Nunes, is a theatrical technician, scenic designer and director. This period of childhood surrounded by artistic stimuli was very inspiring and contributed to the emergence of a questioning spirit in me.
I had my first contact with music while I was still a child, in the theater where we lived. There was a piano and I remember playing it intuitively between one or another child game. During this period I used to be present during the sound check and concerts of local artists of the most diverse styles.
During my early adolescence, I took music lessons and learned to play the classical guitar with musicians such as Rosângela Jorge, Angela Sasse and Marcelo Teixeira at the Maestro Paulino Conservatory in my hometown of Ponta Grossa. After that, I began to investigate the world of percussion instruments with an undefined pitch, such as drums, bongo, pandeiro, zabumba, and others.
Later, at the Conservatory of Brazilian Music in Curitiba (CMPB), I had the opportunity to improve my knowledge of Brazilian percussion in classes with great percussionists such as Vina Lacerda and Luis Rolim. During this period, I created Encontro de Pandeiros, an artistic project that provides experiences and discussions about the Brazilian pandeiro.
During this same period, I was drawn to the electronic and experimental sounds I found in the music of international groups such as Kraftwerk, Pink Floyd, Radiohead, Björk and Aphex Twin. Later, my interest in sound experimentalism also extended to Brazilian artists such as Tom Zé, Itamar Assumpção, Elis Regina, Karnak, Naná Vasconcelos, and Airto Moreira.
I then developed an appreciation for unconventional sounds and the possibility of expressing myself musically in a less restricted way.
During my academic training, I came into contact with the music of composers such as Olivier Messiaen, Karlheinz Stockhausen, Pauline Oliveros, and Murray Schafer. I also had classes with composers and sound artists such as Indioney Rodrigues, Maurício Dottori, and Clayton Mamedes. The subject of improvisation became more and more exciting, to the point of further becoming the theme of my master’s course academic research.
In 2017, I attended the International Improvisation and Sound Art Festival (IMPROFEST) in São Paulo. On that occasion, I attended free improvisation performances by various improvisers, including Paulo Hartmann, Marcos Scarassati, Antonio Gianfratti, and Otomo Yoshihide. The freedom of the artists taking part in this type of performance blew my mind.
Artistic experiences outside and inside the music university sparked my interest in free improvisation even more.
During this same period, I had my first contact with improvisation with music and dance at an event called Improviso Dança e Música promoted by Casa Hoffmann – Center of Movement Studies, in Curitiba. In my first experience at this event, I explored many percussion instruments, such as pandeiro, bongô, caxixi, etc. Gradually, I began to invite musicians from my artistic circle to take part in the meetings, and we began to explore other musical instruments, such as guitars, electric basses, and computers for sound processing.
From these experiences, I formed a free improvisation group called Projeto Netuno, which frequently performed as musical support for Improviso Dança e Música between 2017 and 2018. In 2019, I was invited by Dan Piantino, a collaborating artist of Improviso Dança e Música, to help as a music curator for the event, position I held until 2023.
I feel that the curiosity to create and explore different sonic forms through free improvisation, which developed from artistic experiences throughout my life, led me to an interest in deepening my knowledge about theoretical, practical, and conceptual aspects of free improvisation.
In 2023, I concluded a thesis entitled Movement-sound: Creative Interactions between Music and Dance in free improvisation performances, during a master’s course in Sound Creation at the Postgraduate Program in Music at the Federal University of Paraná (UFPR). In 2024, I moved to Portugal and got more actively involved with experimental music. Currently, I am doing a PhD in Artistic Creation at the University of Aveiro.
UM POUCO DA MINHA JORNADA ARTÍSTICA
A curiosidade de improvisar esteve comigo desde meus primeiros contatos com o fazer artístico. Cresci morando em um teatro e ao longo da infância tive contato com artistas das mais diversas áreas: da música, da dança, do circo, das artes plásticas e das artes cênicas. Também sempre acompanhei o fazer artístico dos meus pais. Minha mãe, Lucélia de Cássia Clarindo, é contadora de histórias, e meu pai, Américo da Silva Nunes, técnico e diretor de teatro. Esse período de infância rodeado por fazeres artísticos foi muito inspirador e contribuiu para a emergência em mim de um espírito questionador.
Recordo-me de uma aula de educação artística, no Ensino Fundamental, em que nos foi distribuído um desenho de uma planta com a instrução de que deveríamos colorir suas folhas de verde e seu caule de marrom. Diante dessa instrução, perguntei à professora se eu não poderia utilizar cores diferentes e acabei por realizar um outro desenho sobreposto ao da planta. Esse desejo de transgredir determinados padrões foi também impulsionado por minha admiração pelos quadros abstratos que decoravam a parede de nossa casa. Por todo lado, a arte parecia solicitar de mim um desejo de pesquisa e de liberdade, de transgressão de convenções, o que me era — e ainda é — muito instigante.
Tive meus primeiros contatos com o fazer musical ainda na infância, no teatro onde morávamos. Havia um piano e recordo-me de tocá-lo de maneira intuitiva entre uma brincadeira e outra. Nesse mesmo período, fui matriculado em uma escola de teclado, mas não conseguia compreender por qual motivo passávamos a maior parte do tempo aprendendo a caligrafar notas numa partitura ao invés de, de fato, tocarmos nossos instrumentos.
Durante a adolescência participei de classes de musicalização e violão clássico. As partituras começaram a fazer mais sentido e comecei a investigar o universo dos instrumentos de percussão com altura indefinida, como a bateria, entre outros. Desenvolvi um apreço por sonoridades não convencionais e pela possibilidade de me expressar musicalmente de maneira menos restrita.
Recordo-me, por exemplo, que havia um aparelho de som em minha casa, e descobri que, ao colocar uma das extremidades de um cabo P10 na entrada de áudio e a outra extremidade desse mesmo cabo na saída de áudio do aparelho, era gerada uma frequência de som senoidal que poderia ser modulada através de seus equalizadores. Essa gambiarra sonora era algo que me fascinava.
Durante esse período, chamavam-me atenção as sonoridades eletrônicas e experimentais que encontrava na música de grupos internacionais como Kraftwerk, Pink Floyd, Radiohead e Aphex Twin. Mais tarde, meu interesse pelo experimentalismo sonoro se estendeu também a artistas nacionais como Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, Karnak, Naná Vasconcelos e Airto Moreira.
Durante o período de formação acadêmica, no contato com a música de compositores como Olivier Messiaen, Karlheinz Stockhausen e Murray Schafer, a temática da improvisação tornou-se cada vez mais instigante, a ponto de ser tema da monografia Memorial de composição: pandeiro espectral, rotinas de improvisação controlada para pandeiro solo (NUNES, 2019).
Experiências artísticas fora e dentro da universidade despertaram ainda mais meu interesse por improvisação, como por exemplo uma performance do musicista Caíto Marcondes no Festival Internacional de Percussão de Curitiba (FIPCuritiba) e a Oficina de percussão criativa da Teca Oficina de Música, em 2017, também com Caíto Marcondes. Nesse mesmo período, tive os primeiros contatos com o termo improvisação livre.
Em 2017, participei como ouvinte do Festival Internacional de Improvisação e Arte Sonora (IMPROFEST), em São Paulo. Nessa oportunidade, assisti a performances de improvisação livre de diversos improvisadores, entre eles Paulo Hartmann, Marcos Scarassati, Antonio Gianfratti e Otomo Yohishide. A liberdade dos artistas participantes naquele tipo de performance foi algo que me impressionou.
Durante esse mesmo período, tive meu primeiro contato com improvisação com música e dança em um evento chamado Improviso Dança e Música (promovido pela Casa Hoffmann Centro de Estudos do Movimento, em Curitiba) que concedia liberdade para a experimentação artística por meio da música e da dança, possibilitando condições para a prática da improvisação livre.
Em minhas primeiras experiências participando do Improviso Dança e Música, utilizei diversos instrumentos de percussão, como pandeiro, tambor, bongô, caxixi etc. Aos poucos, passei a convidar musicistas do meu âmbito artístico para participar dos encontros e, além de instrumentos de percussão, passamos a explorar outros instrumentos musicais, como guitarras, baixos elétricos e computadores para processamento do som.
A partir dessas experiências, formei um grupo de improvisação musical livre chamado Projeto Netuno, que atuou assiduamente como apoio musical do Improviso Dança e Música entre os anos de 2017 e 2018. Em 2019, fui convidado pelos artistas colaboradores do Improviso Dança e Música a colaborar com a curadoria musical do evento. E foi a partir da observação da interatividade criativa musical-gestual entre os participantes dos encontros do Improviso Dança e Música que emergiram os questionamentos basilares da presente pesquisa.
Noto, com isso, que a curiosidade em criar e explorar diferentes formas sônicas por meio da improvisação livre, que se desenvolveu a partir de experiências artísticas ao longo da minha vida, levou-me a um interesse em aprofundar meus conhecimentos acerca de aspectos teóricos, práticos e conceituais da improvisação livre.
No último ano da minha graduação em música, em uma disciplina de improvisação livre, fui introduzido a propostas sistemáticas de improvisação coletiva e controlada por meio de partituras gráficas e obras abertas, como Treatise (1963 – 1967), de Cornelius Cardew, e Aus den sieben Tagen (1968), de Karlheinz Stockhausen. Em 2020, o desejo de aprofundar minhas buscas e descobertas em torno da prática da improvisação livre conduziu minhas pesquisas pessoais à pesquisa de Mestrado em Criação Sonora do Programa de PósGraduação em Música da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
A experiência da interatividade com musicistas e dançarinos por meio da improvisação livre nos eventos do Improviso Dança e Música e a proposta curricular do curso de Mestrado em Música DA UFPR — que oferta linhas de pesquisa que se inserem nos campos da música experimental, da improvisação livre, dos estudos interdisciplinares e dos processos criativos com interatividade artística — foram fundamentais para a concretização de um projeto de pesquisa que integrasse todos esses assuntos e que culminou na realização da minha pesquisa de mestrado.
Em 2023, eu concluí o mestrado em Criação Sonora pela UFPR e me mudei para Portugal para respirar outros horizontes artísticos. Em 2024, eu ingressei no Programa Doutoral em Criação Artística da Universidade de Aveiro, onde desenvolvo uma pesquisa sobre improvisação livre com percussão e eletrônicos ao vivo.